sexta-feira, 30 de abril de 2010

Bom final de semana e bom senso!!

Bom Senso
Composição: Tim Maia

Álbum: Tim Maia Racional (1975)


Já virei calçada maltratada
E na virada quase nada
Me restou a curtição...

Já rodei o mundo quase mudo
No entanto, num segundo,
Este livro veio à mão.

Já senti saudade,
Já fiz muita coisa errada,
Já pedi ajuda,
Já dormi na rua.

Mas lendo atingi o bom senso...
Mas lendo atingi o bom senso
E a imunização racional.

terça-feira, 27 de abril de 2010

This Is It: a conquista de um coração


por Luciene Ribeiro dos Santos



Domingo, 8 de novembro de 2009.

A noite anterior havia sido estranha. Dormi muito pouco. Nos raros instantes de sono, sonhei que não tinha chegado a tempo e tinha perdido a sessão de This Is It no cinema.

Ansiedade, muita ansiedade. Mistura de sensações: a vontade de assistir, a saudade, o medo de não agüentar...

Os ingressos estão comprados há mais de um mês... A última oportunidade de ver Michael, o grande sonho da minha vida. Não posso perder... preciso me despedir dele... não posso perder!

Sim, eram dois ingressos: um pra mim e um para o Beto.

Beto é um ser descolado: leonino, praieiro, meio hippie e meio roqueiro. Os cabelos grisalhos longos e revoltos, os colares e as tatuagens (que fazem dele um gibi ambulante) dão a impressão de que um dia ele foi pra Woodstock a pé, e ficou por lá.

No início, quando nos casamos, achei que ele não vinha morar na minha antiga casa: por não poder mudar os meus LPs do Michael de lugar e de ordem cronológica (“ô virginiana chata, tem que ser tudo pela ordem!!”), por não ter espaço para guardar seus livros e CDs (“aí não, Beto!! é o meu cantinho do Michael!!”), e por ter que topar todos os dias com um enorme pôster da revista Black & White na parede.

Mas eu também não reclamo dos bongôs, das matracas, das esculturas e bonequinhos estranhos, nem das duas calopsitas... e assim vamos levando.

Beto suportou comigo heroicamente o 25 de junho, o 07 de julho e o 03 de setembro, mesmo sem entender por que eu chorava tanto.

Enfim, chegou o grande dia de assistirmos juntos ao filme mais esperado da minha vida, This Is It. Beto fazia questão de ir comigo. Talvez pelo costume de sempre sairmos juntos, porque na verdade ele realmente não liga muito pra "esse negócio de música pop".

Chegamos ao shopping com meia hora de antecedência, mas eu queria logo entrar na sala de projeção. “Calma Preta, calma!”

Éramos a sensação do shopping, pois estávamos usando camisetas iguais que eu comprei especialmente para esse dia. E ele vestiu sem reclamar (Keep Moonwalking, valeu Jackie!).

Beto curtia as vitrines, me puxava pela mão, tentava me distrair... Voltamos lá fora para fumar um cigarro, e fizemos uma pausa para um gole. Ele fazia de tudo para tentar acalmar os meus nervos. Mas eu só queria entrar logo naquela bendita sala.

Entramos, e ele fez questão de que nos sentássemos bem na frente, na segunda fila. “Se é pra curtir o filme do Michael, vamos curtir direito!” (embasbaquei).

Aquele monte de trailers me dava nos nervos mais ainda.

Então, todas as luzes se apagaram. Começou a subir o letreiro de abertura do filme. Beto segurou a minha mão. (embasbaquei - nº 2. Não esperava que ele tivesse essa reação.)

Wanna Be Startin’ Somethin’ já era previsível, pois Michael sempre abre os shows com essa música. Mas a visão do meu ídolo tão grande naquela tela, tão perto e ao mesmo tempo tão longe de mim... o soluço sufocado explodiu, e as lágrimas vieram sem que eu ousasse reprimir.

Chorei os 2 mil litros que eu havia previsto, e mais um pouco.

Beto apertou mais a minha mão, e só dizia: “Calma, Preta. Calma Lu, não fica assim.”

O filme era um deslumbre... Mas, a cada cena que se passava, me doía mais o coração. Eu queria abstrair, tentava cantar, queria pensar que estava em um grande show, e que a tela era um grande palco ali na minha frente... mas nada me fazia esquecer a perda do meu ídolo, do meu grande amor e inspiração.

Em um intervalo, olhei para o Beto entre as minhas lágrimas. Ele realmente prestava atenção, absorto em todos os detalhes do filme.

Beto começou a se balançar com a nova coreografia de They Don’t Care About Us, e me fez dar uma risada no meio do mar de choro.

A cena de Human Nature, que eu já havia vislumbrado em trailer na ::mjBeats, se materializou gigante, diante dos nossos olhos. Beto me perguntou se o Michael ia cantar “Why”, aquela música do Thriller. Eu entendi e disse sorrindo que sim.

Michael começou a cantar, e Beto me sussurrou que adorava essa música. “Pô, quantos bailinhos eu dancei com a música desse cara!”

No ponto mais alto da música, quando Michael soltava o vocal do mais profundo do seu coração, Beto levou a mão aos olhos e chorou.

O que vi, daí em diante, foi uma verdadeira conversão. Beto pirando com a aula musical de The Way You Make Me Feel (“meu, esse cara sabe o que tá fazendo!!”), batendo nas cadeiras do cinema a percussão de I Just Can’t Stop Loving You (nessa parte, o pessoal que estava na primeira fila começou a xingar a gente e mudou de lugar).

Ele tentava cantar as músicas comigo, e fiquei novamente embasbacada ao vê-lo erguendo os punhos e vibrando com as surpresas preparadas por Michael, música após música.

Tenho vontade de descrever aqui todas as emoções que senti naquele dia, mas não poderia fazer isso sem contar o filme todo, gravado a ferro e fogo em minha mente e meu coração.

Quando tudo parecia ter terminado – quando os créditos começaram a subir, e as luzes do cinema começaram a se acender –, Beto não se levantou. Fechou os olhos para ouvir a música nova, This Is It, e ficou até o fim. Em seguida, postou as mãos para fazer a sua oração budista, e orou por Michael.

Nos abraçamos para chorar juntos. O abraço que ele me deu foi grato e emocionado. “Preta, eu curti muito! Esse cara era iluminado. O mundo perdeu um grande cara.”

This Is It conquistou mais um coração.

Não discriminemos os novos fãs, que somente agora viram a luz; pois nunca é tarde para amar.

Felizes todos aqueles que puderam amar Michael Jackson em vida; e bem-vindos todos aqueles que aprenderão a amá-lo desde agora, e para sempre.
This is it.

Publicado originalmente em 19/11/2009 na ::mj Beats - www.reidopop.com

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Viva Tiradentes!!


Créditos da charge: http://maniadehistoria.wordpress.com

Eu não esqueci o que significa o 21 de Abril.




Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério


Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério:
que ele traiu Jesus Cristo,
tu trais um simples Alferes.
Recebeu trinta dinheiros...
- e tu muitas coisas pedes:
pensão para toda a vida,
perdão para quanto deves,
comenda para o pescoço,
honras, glórias, privilégios.
E andas tão bem na cobrança
que quase tudo recebes!

Melhor negócio que Judas
fazes tu, Joaquim Silvério!
Pois ele encontra remorso,
coisa que não te acomete.
Ele topa uma figueira,
tu calmamente envelheces,
orgulhoso e impenitente
com teus sombrios mistérios.
(Pelos caminhos do mundo,
nenhum destino se perde:
há os grandes sonhos dos homens,
e a surda força dos vermes.)

Cecília Meireles

terça-feira, 20 de abril de 2010

Poema sem título


Para estar contigo dois minutos
Duas palavras lembradas, sentimentos dissolutos
O tempo das curvas em branco nas pálpebras das paisagens
- faço-me verso.

Para estar contigo ainda duas horas
Deixar-te mapear os meus suspiros
Ouro desterrado, aragens, zéfiros, auroras
- faço-me espaço.

Para ser contigo o mistério das palavras
De teu desejo contido, teu gemido
Espírito e corpo, memória e geografia
- faço-me tempo e saudade.

Para estar contigo e ser verdade,
Faço-me poesia
- Eternidade.

* enfiei esse pé na jaca em 30 de maio de 2001.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Perfeição


Legião Urbana
Composição: Renato Manfredini Jr. - Renato Russo

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos,
Covardes, estupradores e ladrões.

Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado que não é nação.

Celebrar a juventude sem escolas,
As crianças mortas...
Celebrar nossa desunião.
Vamos celebrar Eros e Thanatos,
Persephone e Hades,
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais...
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação

Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre e todos os impostos,
queimadas, mentiras e seqüestros...
Nosso castelo de cartas marcadas,
O trabalho escravo, nosso pequeno universo.

Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo roubo e toda indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã!

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar.
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração...

Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo que é gratuito e feio
Tudo o que é anormal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
- A lágrima é verdadeira.
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação

Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão...
Tá tudo morto e enterrado agora!
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção...

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha!
O amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha! que o que vem é perfeição...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pausa para o xixi... rsrsrs

Just a wee stop!! (Singapore)

Créditos da foto: Simon Sonntag - aluno de Matemática da TU München - Alemanha

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Soneto de Intimidade


Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
Mastigando um capim, o peito nu de fora
No pijama irreal de há três anos atrás.

Desço o rio no vau dos pequenos canais
Para ir beber na fonte a água fria e sonora
E se encontro no mato o rubro de uma amora
Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
E quando por acaso uma mijada ferve

Seguida de um olhar não sem malícia e verve
Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
Mijamos em comum numa festa de espuma.

Vinicius de Moraes

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Olhos Coloridos (Sarará Crioulo)



Composição: Macau
Intérpretação: Sandra de Sá / Funk Como Le Gusta

Os meus olhos coloridos
Me fazem refletir
Que eu estou sempre na minha
E não posso mais fugir...

Meu cabelo enrolado
Todos querem imitar
Todo mundo baratinado
Também querem me enrolar...

Você ri da minha roupa
Você ri do meu cabelo
Você ri da minha pele
Você ri do meu sorriso

A verdade é que você
(Todo brasileiro tem!)
Tem sangue crioulo
Tem cabelo duro
Sarará crioulo!

Sarará crioulo!
Sarará crioulo!
Sarará crioulo!
Sarará crioulo!

* Bom final de semana, galera!! Sarará hei, sarará hô!! :)

domingo, 4 de abril de 2010

Tem Que Acontecer - Zeca Baleiro

Composição: Zeca Baleiro


Não fui eu, nem Deus, não foi você, nem foi ninguém
Tudo que se ganha nessa vida é pra perder
Tem que acontecer, tem que ser assim
Nada permanece inalterado até o fim
Se ninguém tem culpa, não se tem condenação
Se o que ficou do grande amor é solidão
Se um vai perder, outro vai ganhar
É assim que eu vejo a vida e ninguém vai mudar

Eu daria tudo pra não ver você cansada
Pra não ver você calada
Pra não ver você chateada, cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus, nem sou senhor...

Eu daria tudo pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada, a mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou só um compositor popular

Eu daria tudo pra não ver você zangada
Pra não ver você cansada
Pra não ver você chateada, cara de desesperada
Mas não posso fazer nada
Não sou Deus, nem sou senhor...

Eu daria tudo pra não ver você chumbada
Pra não ver você baleada
Pra não ver você arriada, a mulher abandonada
Mas não posso fazer nada
Eu sou só um compositor popular.